Tomada de posse em versão terceiro-mundista
Mais uma performance do governo Santana/Portas/Sampaio. A dança das cadeiras é mais grave do que pode parecer à primeira vista. Quando Portas anunciou uma "novidade" para o Min. da Defesa não estava à espera que duas horas depois a senhora fosse parar a outro lado. Afirmou-o convictamente e como se tratasse de uma nomeação bem amadurecida. Fraco, mesmo, foi o curriculum que Portas apresentou : neta e filha de militares!!!! Ora, o que pode ter levado às alterações depois verificadas ? Santana veio dizer que reservara para ele a última decisão e que decidiu assim... porque sim. Não explicou porque retirou a senhora do Min. da Defesa e criou, naquele mesmo fim de tarde, uma nova secretaria, na Cultura, para a atribuir à "desalojada" . Se não é uma guerra de lugares ( negócio de mercearia )entre PSD e PP, então quem, entre as 16 e as 18 horas daquele dia, provocou esta "incomodidade" ao novo Governo ? Só pode ter sido "alguém" com força para tal, certamente. E então, quem ? Por mim, afastada a possibilidade de um último acerto de "mercearia", só vejo duas possibilidades, que se confundem no seu percurso final: O presidente ( minúscula, claro ) e/ou a sua Casa Militar e/ou os militares. Em todo o caso, a terem sido os militares a exigir a alteração te-lo-iam que fazer através de quem tivesse poderes para tal. Dada a conjuntura em que este governo se constituiu, dada a posição do presidente e o seu envolvimento , mandaria a prudência que o recado fosse entregue a Belém para surtir efeito em tempo e não levantar outras ondas. Mas não estou a ver porque razão o presidente se meteria nesta embrulhada. Resta a hipótese de a movimentação ter seguido o percurso do PSD ( alguém bem colocado para intermediar ) ou então houve intervenção directa junto do primeiro-ministro e assim o problema ganha contornos de maior gravidade. Representaria ( deixem-me utilizar este tempo do verbo ) a subordinação do poder político democrático ( embora agora fortemente fragilizado) aos militares. Uma coisa é o recurso a um superior hierárquico - o presidente - outra a chantagem ou imposição directa ao primeiro-ministro curto-circuitando Portas. E porque razão se oporiam os militares a esta novidade de Portas? O facto de ser mulher? De não ter qualquer experiência naquela área ? Nenhuma razão me parece aceitável pelo que pode representar como precedente para futuras nomeações políticas para aquela área. A paciência , pelo menos aparente, com que o presidente aguardou 50 minutos para que a nova acta de tomada de posse fosse escrita pode indiciar que obteve uma explicação satisfatória. Será que os portugueses vão ter o direito a saber o que se passou? É claro que também pode ter acontecido que Santana, pensando nos superiores interesses da Nação, tenha decidido que o que fazia mesmo falta era criar uma nova secretaria na cultura para a qual só existia mesmo aquela senhora para nomear. As duas tomadas de posse deste governo, a dos ministros e a dos secretários de estado, tiveram momentos burlescos e terceiro mundistas. Assim vai Portugal.
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